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O molho de beterradas que nos deu um vizinho na janela da minha cozinha. |
Posto isto, vamos ao título deste texto de regresso. Tem apenas a ver com a ironia que me sucedeu, já que depois de deixar como último escrito aqui pendurado um elogio ao texto da blogger canadiana Minimalist Mom, sucedeu-me viver algo muito parecido. A autora descreve como voltou à sua casa depois de alguns anos emigrada na Europa, para deparar com a sua cozinha feia, da qual nunca gostara. Naquela altura da vida, de regresso, de reencontro, a cozinha acabou por ser englobada no sentimento de aconchego. E ela declarou estar a aprender a amar a sua cozinha feia - que, afinal, sempre desempenhara a sua função. Consumir-se por ter uma cozinha feia era, concluía ela, apenas um problema de primeiro mundo que não a devia atormentar.
Foi este o texto que me ocorreu quando entrei pela primeira vez naquela que viria, alguns meses depois, a tornar-se na minha própria cozinha feia. Numa emocionante reviravolta, dei por mim a voltar à minha terra e foi um mergulho de cabeça naquilo que eu mais gostava dela - a sua cara soalheira de aldeia, as suas pessoas reais e descomplicadas, o seu modo de vida simples e pragmático. E esse regresso envolveu uma cozinha feia. Sou agora a feliz dona de uma cozinha feia e muito pequena, mas de cuja janela se vê um quadro maravilhoso. A minha cozinha feia é o coração da casa, que também é pequena e cheia de defeitos, mas tão encantadora que entrou como uma flecha na minha alma desprevenida.
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Assar legumes foi a minha coisa favorita dos últimos meses. |
E enquanto assim for, a minha cozinha feia será sempre bonita. E, tal como a Minimalist Mom, aprendi a gostar da minha cozinha feia, onde os meus filhos riem e cantam ao início do dia, e onde partilhamos chávenas de café à janela, a conversar de olhos no horizonte. Serve a cozinha para falar também deste blog. Volta e meia, nos últimos meses, atirei-me com entusiasmo a testar novos esquemas, mais limpos e mais modernos, a experimentar letras e títulos. Foi sempre frustrante porque eu gosto é de escrever, mas não tenho paciência para aprender as manobras do desenho digital. Não gostei de nada do que experimentei, não consegui completar nada, fiquei impaciente e desisti. Acabei por voltar sempre a este modelo básico, com as caixinhas que criei há anos e se mantêm actuais. O meu blog feio, tal como a minha cozinha, funciona. Nele, faço o que é preciso, mesmo com um esforço extra de tempos a tempos - como ter que tirar todas as assadeiras do forno e empilhá-las sobre a pequena mesa sempre que quero fazer um assado. Enquanto me afadigo nessa ginástica, entra uma luz boa pela janela e eu faço assados todas as semanas. Por isso, vou é escrever no blog e não pensar mais nos seus defeitos.
Sintam-se, então, muito bem-vindos ao meu blog feio, espero que se torne um lugar bonito para quem vier por bem.
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Bem-vinda de volta.